Quando lembro das pulcras poesias de Manoel Bandeira, Vinicius de Moraes
e Mário Quintana percebo a brandura na forma que expressão o amor.
Minha concepção de amor foi construída a partir da minha bagagem
ontogenética (interações sujeito – ambiente), filogenética (herança de genes,
formação fisiológica, biológica, neurológica, características de uma
determinada espécie) e cultural (cultura que estamos inseridos e em constante
interação).
Eu aprendi que para amar alguém é necessário amar a si próprio, e esse
amor abre um leque de situações, pois envolve não só o amor, mas também o
respeito, carinho, credibilidade, cuidados com minha saúde física, psíquica
etc. Ou seja, tudo aquilo que você espera encontrar no seu próximo, deverá
primeiramente estar em você.
Amar é as ações do amor, requer desejo, coragem e dedicação, ao contrário
do que muitos dizem, minhas experiências me levam a afirmar que é fácil amar, o
difícil é decidir amar, e essa decisão tem que ser feita todos os dias para as
mesmas pessoas.
A partir do momento que decidi amar meu próximo, minhas atitudes passam a
serem outras; eu começo a compreender, aceitar, perdoar, ser verdadeira,
sincera, bondosa e fiel para com este, e tudo que eu vier a fazer será para o
crescimento da nossa relação. É necessário se doar quando falamos de relações
humanas, este não é o tema principal deste texto, mais se faz necessário falar,
quando o meu tema é amor e envolve indivíduos.
Pois, atualmente as relações humanas estão cada vez mais complexas, e
diante do crescimento demográfico, mobilidade espacial de indivíduos e de
grupos, multiplicabilidade de aspectos da vida moderna, número elevado de
instituições e de grupos aos quais pertencemos (às vezes até mesmo
involuntariamente), desenvolvemos contatos rápidos e superficiais que
necessitamos manter com diferentes pessoas de classes sociais, além de outros
fatores. E perante esses indicadores, como conseqüência, temos indivíduos mais
intolerantes consigo e com os outros.
Percebo que se tornou necessário para o ser humano agir de maneira
incongruente em suas relações interpessoais, além de uma cobrança excessiva de
si mesmo e do outro, e a indigência de ter vantagens dentro do grupo, sem se
importar com as pessoas que também pertence a este. Ao operar de tal forma, o indivíduo
transfere ao outro os mesmos mecanismos, acreditando que todos agem da mesma
forma, criando uma relação conflituosa, mas mantendo o desejo de ser aceito por
todos dentro do grupo.
Necessitamos viver em grupo, precisamos um do outro para a nossa sobrevivência,
o relacionamento humano é simples e complexo ao mesmo
tempo. No nosso dia a dia, convertemos nossos pensamentos em palavras, gestos e
ações que podem proporcionar alegrias e tristezas para as pessoas que
participam de nossa vida. Porém, o ser humano só existe, sobrevive ou subsiste
em função da inter - relação com o outro. Como já pronunciou Paulo Freire, “ninguém sabe tudo, nós aprendemos uns com os
outros”.
Não existe um manual da boa convivência, mas é
fato que com amor, toda relação por mais complexa que seja, se torna maleável.
E diante disto, existe um livro que ensina como devemos amar.
A bíblia inúmeras vezes retrata relacionamentos
envolvendo amor, ou até mesmo alguns ensinamentos. Descreve o amor de Cristo
pela humanidade, ao ponto de morrer na cruz em nosso lugar. Mas, não é essa
relação que quero ilustrar, quando descrevo acima minha concepção de amor, eu
lembro que a bíblia relata que existiu uma relação complexa, mas havia um
verdadeiro amor, me refiro à amizade entre Davi e Jônatas.
Em I Samuel 18: 1 ao
4, descreve o primeiro encontro entre ambos, e relata que Jônatas amou Davi como à sua própria alma, e neste dia fizeram uma
aliança, a partir naquele momento um decidiu amar o outro, e continuando a
leitura no livro de Samuel, é possível afirmar que eles investiam nessa
relação. Quando me refiro a complexidade da relação, é por que com o tempo,
Davi se tornou inimigo de Saul (rei de Israel), e Saul era pai de Jônatas. E Deus já tinha como propósito levantar Davi
como rei em seu lugar.
Porém,
o amor que sentiam um pelo outro, era verdadeiro, e em I Samuel 20 – 23: 16 e
17. Vemos que mais uma fez que fizeram uma aliança de fidelidade, onde Jônatas
prometeu para Davi que não permitiria que Saul o matasse. E Jônatas cumpriu sua
promessa.
Com o passar do tempo, Saul e Jônatas morrem, e
conforme os planos e sonhos de Deus, Davi se tornou rei de Israel.
E apesar da morte de Jônatas, Davi não o
esqueceu, não esqueceu da sua amizade e da aliança que fizeram um com o outro.
E em II Samuel 9, Davi é bondoso com Mefibosete, filho
de Jônatas, e o levou para morar contigo em sua casa, e sendo Mefibosete, coxo
de ambos os pés, sempre comia à mesa do rei.
Essa
é uma relação de amor, pois ambos tinham acima de tudo uma relação de amor e
fidelidade com o Senhor.